Os adultos
sempre me disseram que eu gostava de comer muito, que o meu apetite parecia não
terminar.
Por vezes
achava que eles exageravam um pouco e que era impossível eu comer assim tanto.
Pensava que as pessoas crescidas queriam apenas que lhes achasse piada…
Um dia,
quando tinha três ou quatro anos, não me lembro bem, estava no jardim da casa
da minha avó, junto a uma das escadas que sobem o relvado. Era pequeno, todas
as coisas à minha volta pareciam enormes, como se fossem trepar para o céu. Por
vezes não entendia bem como deveria olhar para elas e porque razões tinham de
ser tão altas.
A hora do
lanche aproximava-se. Quando a minha mãe, da parte de cima da escada, chamou
para ir lanchar, pus-me em pé, acelerei escada acima sem pensar na altura dos
degraus. Deviam ser enormes, porque tropecei, caí e magoei-me no lábio e nos
dentes. Ficaram os adultos todos aflitos, a minha mãe agarrou em mim, que
chorava agarrado ao seu “bebé” e, no carro, quase voámos para o hospital para
que toda aquela dor parasse e, quem sabe, eu pudesse ainda ir lanchar.
Só que o
dente que parti e um outro que ficou danificado fizeram com que o lanche não
tivesse acontecido. Por isso, durante várias semanas, o meu apetite ficou à
espera.
Mas valeu a
pena. Fiquei bom e, até hoje, eu e o apetite somos inseparáveis.
Pedro Luís